quinta-feira, 28 de maio de 2020

Parte IV - Diálogos e Conexões: Breve Ensaio Sobre o Desenvolvimento da Ciência Geográfica

4. Entre os Modelos e a Explicação: A Nova Geografia e a Geografia Crítica


    O que antecede a Nova Geografia é a Geografia Pragmática norte-americana e para entendermos o surgimento da primeira é preciso discorrer sobre a segunda. Portanto, a Geografia Pragmática teve grande influência nos Estados Unidos.
    Dois geógrafos vão influenciar a uma movimentação para uma renovação da geografia, sendo eles Alfred Hettner e Richard Hartshorne e seus nomes estão vinculados a Geografia Racionalista, a qual tenta desvincular o empirismo no método de pesquisa, mas não necessariamente houve algum rompimento com a Geografia Tradicional. A Geografia Racionalista, mais tarde há de se chamar Pragmática.
    Alfred Hettner, foi um geógrafo alemão que tentou romper o pensamento determinista e possibilista, porém foi renegado em sua época. Hettner dizia que a geografia deveria estudar as diferenciações das áreas, ou seja, analisar os elementos e suas inter-relações da superfície da terra.
    Hartshorne vai se embasar em Hettner, levando e melhorando o estudo geográfico no EUA, a geografia estuda as inter-relações de fenômenos heterogêneos. Porém, o rizoma epistemológico da geografia expandira, pois Hartshorne cria a Geografia Nomotética, sendo esta a, grosso modo, a generalização das áreas e criou também a Geografia Idiográfica, esta sendo o estudo singular, do particular, que levaria a um estudo mais especifico e detalhado. Todavia, Hartshorne não se preocupou em dar o objeto de estudo da geografia, sendo este para ele um “ponto de vista”.
    Após 1970, a geografia de fato rompe com a Geografia Tradicional, porém entra em crise, pois os modelos de produções capitalistas mudaram, haviam grandes monopólios, o capitalismo estava mais complexo, a urbanização se expande de maneira irrefreável, o modelo agrário adquiriu a industrialização, as relações se modificaram, entre outras coisas. A geografia não estava conseguindo compreender o espaço, levando a crise de técnicas de análise. O próprio positivismo estava caindo em terra, por carregar a simplicidade em seu método. A geografia já não tinha um objeto claro e concreto para se consolidar como ciência. E mais uma vez, o rizoma epistemológico expande-se para muitas categorias, podendo dividir em duas contrastantes: a Geografia Pragmática e Geografia Crítica. Essa divisão ocorre por conta das ideologias, concepções de mundo, engajamento político e metodologias.
    A Geografia Pragmática, nome autoexplicativo, tende a um caráter prático. Levantou críticas a Geografia Tradicional, principalmente a insuficiência de análise e ao método empirista. O método pragmático está embasado na estatística e no raciocínio dedutivo, coligado ao interesse do capital (burguesia), muitas vezes correlacionando-se com o Estado capitalista.
    Dentro deste movimento houve ramificações, entre elas está a Geografia Teorético-Quantitativa, com as elaborações de “diagnósticos” a partir das expressões numéricas. Houve a Geografia Sistêmica ou Modelística, que usavam modelos de representações e explicação. E a Geografia da Percepção, de caráter behaviorista, buscava entender como os homens percebem o espaço por eles vivenciados.
    O grande problema vinculado ao pragmatismo geográfico, que vai servir de crítica com a Nova Geografia, é que eles não se preocuparam em desvincular a base social do pensamento Tradicional, favorecendo a burguesia e ao Estado burguês. A Geografia Pragmática vai se abster de assuntos sociais e políticos. Fernandes e Dutra (2019) dizem em relação a demanda de uma outra movimentação epistêmica e comentam:
No âmbito científico-paradigmático, a Geografia Crítica nasce da própria Nova Geografia, e do contexto histórico, questionando e criticando a ideologia presente para o desenvolvimento do capitalismo. Inicia-se, a partir de uma sócio-construção, um novo paradigma na geografia com abordagens baseadas na dialética, hermenêutica, fenomenologia. (2019, pg.6).
    Por fim, tem-se a Geografia Crítica, a qual levará a ruptura com o pensamento pragmático, cujo método pauta-se na interpretação materialista histórico-dialética do mundo. Tal geografia vai se diferenciar através do seu engajamento político, social e cultural, isto é, buscando um caráter analítico, o que trouxe não uma geografia, mas geo-grafias.

Referências


FERNANDES, A.M. GOMES, R. D. Os critérios de verdade na Nova Geografia: a influência do Círculo de Viena na abordagem geográfica. Anais do VII Encontro do Pensamento Geográfico. Recife-PE. 2019.


Confira o texto completo clicando aqui.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Parte III - Diálogos e Conexões: Breve Ensaio Sobre o Desenvolvimento da Ciência Geográfica

3. A Construção das Duas Escolas: A Recente Alemanha e a França


    A Alemanha teve seu processo de unificação de um Estado Nacional tardio em relação aos outros países da Europa, o que trouxe certas dificuldades de desenvolvimento capitalista. Entretanto, após a guerra entre a Prússia contra Áustria, com vitória da primeira. Teve-se uma implantação do molde de organização prussiana, com aspectos forte de nacionalismo/chauvinismo e uma forte e poderosa militarização.
    Ratzel, cabe destacar aqui, foi muito influenciado por duas correntes científicas, o darwinismo e o positivismo, o primeiro está vinculado a concepção de “organismos”, esses sendo a sociedade de um modo geral. O positivismo dentro da obra de Ratzel está na tentava de sistematizar a geografia, de trazer aspectos quantitativos e estatísticos para então alcançar o progresso da sociedade.
    Bem, a obra de Ratzel está totalmente interligado ao seu contexto histórico, dando aval para o imperialismo alemão. A teoria do autor era a de que o meio em qual determinada sociedade se encontrava influenciava o desenvolvimento da mesma, e que a partir do desenvolvimento haveria premência territorial de se expandir.
    Os adeptos de Ratzel, faz-se necessário dizer, generalizaram e simplificaram sua teoria. Criando a escola determinista ou, até mesmo o “determinismo geográfico”. Tais generalizações seriam “ o homem é produto do meio” ou “ o meio define o progresso da história”.
    Entretanto, houve oposição a esse tipo de pensamento, nascendo na França. E aqui cabe explanar, brevemente, o contexto histórico e geográfico. A França passou por uma revolução burguesa com influência Iluminista, instituindo uma tradição liberal e cientificista. A ciência teve papel importante, pois foi colocada afastada do discurso ideológico burguês com um ar de “neutralidade”, porém, esta trouxe autoritárias ordens. 
    No final do século XIX, a Prússia (futura Alemanha) e a França tentavam a disputa da hegemonia da Europa, o que travou em um combate em 1870. O que levou a derrota da França e a perda de Alsácia e Lorena, territórios de grandes reservas de carvão, os quais eram utilizados para a industrialização francesa, agora em pertencimento a Prússia.
    Após a derrocada francesa, houve a formação da Terceira República francesa. O procedente foi a colocação da geografia em todas as escolas de ensino básico, foram criadas também as cátedras e institutos de geografia. Mostra-se o interesse a geografia dentro do contexto da guerra. E é nesse emaranhado que surge a oposição a ideia de Ratzel, com propostas de Paul Vidal de La Blache.
    La Blache trouxe três críticas ao determinismo de Ratzel. Primeiro argumentou que a ciência geográfica alemã não tinha “neutralidade”, na tentativa de deslegitimar e implantar a base liberal burguesa, isto é, deslegitimar o imperialismo alemão e sobressair o imperialismo francês de modo sutil. A segunda crítica foi a passividade que o ser humano se encontrava nas formulações ratzelianas. Com isso, Vidal contribui para a carga humana dentro da geografia. Por fim, a última crítica foi no determinismo de fato, ou melhor, descordou de que o meio é o “maior” fator para determinar o caminho da história.
    A partir dessas três críticas, La Blache criou uma perspectiva opositora à alemã. O objeto de estudo seria a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Dando maior ênfase ao homem, ou seja, o homem é ativo e passivo sobre o meio. A natureza possibilita o desenvolvimento humano, daí vem a ideia de possibilismo. Mas vale a ressalva de que o possibilismo de Vidal era um mito da ciência asséptica, que a ciência possui neutralidade e este posicionamento de “despolitização” da ciência deu abertura para o imperialismo francês.
    Idealizado por Paul Vidal de La Blanche, o Possibilismo é a escola geográfica da França. O surgimento desse pensamento tem início na época em que estava havendo durante o confronto Franco-Prussiano, pois a França viu a necessidade de conhecer o território.
     Diferente do Determinismo (até mesmo contra), o Possibilismo tem uma visão de que o homem pode modificar a natureza a seu favor, não ficar refém dela, apenas intervir e adequa-lá a suas necessidades e assim adaptaria-se a esse meio modificado. Os intelectuais Possibilistas tiram a responsabilidade da natureza pela pobreza de uma população ou pelo seu retardamento, pois se acreditam que o homem pode modificar ele pode sair dessa situação de “desfavorecimento” natural.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Parte II - Diálogos e Conexões: Breve Ensaio Sobre o Desenvolvimento da Ciência Geográfica

2. A Sistematização de Uma Ciência em Meio a Guerra


    Para que haja o entendimento da produção de Friederich Ratzel, se faz importante a percepção de seu contexto histórico, científico, cultural e suas interligações. Vale a pena salientar que a Alemanha no século XIX não era ainda a Alemanha pois não havia se constituído o Estado Nacional. Por assim dizer, a Prússia – futura Alemanha- continuava com a aglutinação de feudos, isto é, a Prússia vivia uma descentralização de poder. De um modo geral, os proprietários das terras eram quem mais possuía poder e passaram do autoconsumo, da subsistência a produção ao mercado, mas sem desestruturar o modo de relação servil, típico do feudalismo.
    A origem da Geografia se dará na Alemanha, tanto pelo motivo das fragmentações do modo capitalista, mas também com o expansionismo napoleônico. Napoleão, com o bloqueio continental, fez com que a Alemanha se industrializasse e também fez com que seu mercado interno ascendesse. Isso levou a um ideal de unidade, mas não a unificação. Este acontecimento levou a Confederação Germânica, de um modo geral, havia uma disputa entre a Áustria e a Prússia para a tomada de poder, o que levou a guerra entres as duas. Prússia sai como vitoriosa e aplica seu modelo de organização espacial política, econômica e, principalmente, militar (MORAES, 2007).
A unificação tardia da Alemanha, que não impediu um relativo desenvolvimento interno, deixou-a de fora da partilha dos territórios coloniais. Isto alimentava um expansionismo latente, que aumentaria com o próprio desenvolvimento interno. Daí o agressivo projeto imperial, o propósito constante de anexar novos territórios. E, por esta razão, mais uma vez, o estímulo para pensar o espaço, logo, para fazer Geografia.
    Pode-se dizer que Friedrich Ratzel e seu estudo geográfico deram forças ao expansionismo Prussiano, isto é, o autor era engajado em seu contexto político. A obra nasce na justificativa ao imperialismo Alemão. O desenvolvimento industrial/capitalista tardio deixou a Alemanha sem a partilha de territórios coloniais. Porém, este rápido crescimento levou a uma fervorosa expansão.
    Ratzel traz um fortalecimento para a política imperialista da Alemanha ao trazer o objeto de estudo da geografia, sendo está, o estudo da influência da natureza sobre os seres humanos, tanto na fisiologia quanto no psicológico do ser humano. Ratzel vai dizer que a natureza determina a riqueza, o desenvolvimento das sociedades com os meios que tal sociedade obtém. Ratzel ainda traz a naturalização do expansionismo de uma sociedade bem desenvolvida, pois o progresso exige maior uso dos recursos naturais e isso exige uma ampliação do território. Para enaltecer a ação alemã, o teórico traz o conceito de Espaço Vital, que representa o equilíbrio de uma dada sociedade e aos seus recursos disponíveis, portanto, dando a competência de ampliar-se a partir da necessidade de outros territórios para. E a imagem do Estado é essencial, pois é a partir dele que há imperialismo.

Referências


MORAES, A.C.R. Geografia: Pequena história crítica. São Paulo: Annalumbe. 2007.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Parte I - Diálogos e Conexões: Breve Ensaio Sobre o Desenvolvimento da Ciência Geográfica

Texto pelos petianos e licenciandos em Geografia: Arthur Macedo Fernandes e Maria da Conceição Nascimento.

Introdução


    A constituição de uma ciência exige tempo (e espaço), assim também ocorre com a Geografia. Enquanto tema, sempre apareceu em diversos estudos de antigas civilizações, sejam em relação ao clima, a vegetação, a cartografia, ao relevo e suas diversas interações com o espaço. Ptolomeu, Hipócrates, Aristóteles trabalharam com a temática em seus mais complexos estudos (MORAES, 2007). Passando desde as mais antigas civilizações, os aristocratas naturalistas, as “escolas” alemã e francesa, ao pragmatismo norte-americano e a comentada geografia crítica. Por fim, a penetração e o desenvolvimento da geografia no Brasil, principalmente, no Nordeste. Todas essas movimentações epistêmicas que abarcam tal ciência têm como fundamento seu contexto histórico, político e social, implicando nas formulações do que hoje entende-se Geografia. Isto é, cabe a análise de seu respectivo contexto, os estudos elaborados por autor/a e suas consequências para a sociedade. 
    Antes de iniciar o texto, cabe ressaltar, para uma melhor compreensão do que se trata, a diferença entre conhecimento e pensamento. Etimologicamente, conhecimento deriva do latim cognoscere que significa “aprender sobre; saber sobre”. Nicolla Abbagnano (2007, p. 174) diz que é “uma técnica para a verificação de um objeto qualquer, ou a disponibilidade ou posse de uma técnica semelhante. Por técnica de verificação deve-se entender qualquer procedimento que possibilite a descrição, o cálculo ou a previsão controlável de um objeto”. O pensamento vem de pensare e traduz-se “formar uma ideia e/ou refletir”, e seu conceito, grosso modo, é “Atividade do intelecto em geral, distinta da sensibilidade, por um lado, e da atividade prática, por outro” (Ibidem, 2007, p. 751). 
    Portanto, alguns dos assuntos tratados no texto podem seguir na formulação do pensamento e/ou conhecimento geográfico. O objetivo do texto tem como conduzir o/a leitor/a a formação da geografia enquanto cognoscere e pensare. Assim, adotamos uma linha de raciocínio evolucionista como ferramenta didática. Mas entendendo de que o processo paradigmático não ocorre homogeneamente, mas sim simbioses entre diversas produções, método, pensamentos, epistemes e teorias. 

1. Origens do Conhecimento Geográfico: da Antiguidade até os Naturalistas


    As origens remotas da geografia, tanto como tema quanto uma disciplina, diz respeito a civilizações ocidentais-orientais, isto é, a construção do conhecimento não é homogênea na região da Europa Central. A título de exemplo tem o mapa-múndi produzido pelo árabe Al-Idrisi (Figura 1), e perceba que as referências cartográficas estão invertidas, sendo o Sul sua referência.

Figura 1: Mapa de Al-Idrisi. 
Fonte: https://sindominio.net/labiblio/varios/IdrisiMap.jpg. Acesso em 20 de maio de 2020.

    Outra parte, amplamente conhecida, são as cartografias e/ou pesquisas com temáticas que tangenciam a geografia de estudiosos da Grécia Antiga, entre eles Aristóteles, Hipócrates, Eratóstenes, Estrabão, Ptmolomeu entre outros mais. Cavalcanti e Viadana (2010, p. 30) em seu texto comenta sobre Estrabão: 
Com referência a autores que contribuíram de forma efetiva nesse período para a concepção da ciência geográfica, destaca-se Estrabão (63 a.C – 24 d.C), autor de Geographia, um tratado de dezessete livros contendo a história e as descrições de povos e locais do mundo conhecido à época. [...] Apesar dos erros, essa obra foi a primeira desse gênero herdada da Antiguidade. Conforme Estrabão, “a Geografia [...] nos parece ser, como algumas ciências, do domínio da Filosofia [...] a variedade de aplicações que é susceptível a Geografia, que pode servir, por sua vez, às necessidades dos povos e aos interesses dos chefes...implica que o geógrafo tenha esse mesmo espírito filosófico habituado a meditar sobre a grande arte de viver e de ser feliz” (2010, Pg. 30).
    A influência dos autores da Antiguidade é imensa, outro grande importante pensador foi matemático, geógrafo, astrônomo que “com sua obra Geographia em oito volumes, contendo todo o conhecimento geográfico greco-romano. Ptolomeu (90 – 168 d.C) inclui coordenadas de latitude e longitude para os lugares mais importantes, com observações astronômicas em Alexandria” (ibidem, 2010, p.31). O mais importante da obra do autor é que irá influenciar estudiosos da Idade Média até o renascimento.

Figura 2: Reconstituição do mapa criado por Ptolomeu na sua obra Geographia (150 d.C). Note a projeção cônica equidistante criada por Ptolomeu
Fonte: Graecia Antiqua (2007)

    O imenso acervo do conhecimento científico foi trancafiado nos mosteiros no período conhecido como Idade Média, sendo quem detinha tais assunto era a alta hierarquia do cristianismo apostólico, tendo dois estudiosos de grande relevância – Santo Agostinho e São Thomas de Aquino. Entretanto, a “verdade” permanecia na fé cristã, vangloriada pelo dogma, sendo este incontestável. Houve, vale a pena salientar, muitas perseguições e torturas aos opositores do dogma cristão através da Santa Inquisição.
    O estudo da geografia se manteve limitado a partir desse contexto. A cartografia, grande aliada da geografia, detinha certa carga simbólica nas propostas dos estudiosos da Idade Média, sem propósito de localização ou para navegações. Os famosos mapas TO eram trabalhados contendo a Europa, Ásia e África. Esse entendimento tem ligação com a Santa Trindade (Deus, Jesus e Espírito Santo), representava também os três reis magos. Ou seja, a idiossincrasia da geografia medieval representava o modelo socioeconômico e cultural vigente da Europa através de uma abordagem simbólico-qualitativa. Outra característica da geografia medieval, grosso modo, foi que muitos estudos foram plagiados de estudiosos pagãos, ou melhor, houve reproduções de outras obras e isso explica a preocupação de guardar toda a literatura do que melhorá-las, o próprio contexto das invasões deu certa preocupação para tal ato (BAUB, 2007).
A mudança na estrutura social, política, cultura e econômica que se deu após a Idade Média forma-se com o corolário do fortalecimento da atividade mercantil, com o nascimento das primeiras cidades junto ao crescimento da burguesia trouxeram mudanças no paradigma do conhecimento, a penetração do capitalismo e dos interesses políticos e econômicos da burguesia se alastraram na Europa, não de modo uniforme mas teve movimentações territoriais específicas, aumentando o acervo dos estudos sobre a superfície da Terra e tal período chama-se Renascença.

Figura 3: Mapa construído por Isodoro de Sevilha, percebe-se que é tripartido (Ásia, Europa e Africa).
Fonte: Baub (2007)

    A mudança na estrutura social, política, cultura e econômica que se deu após a Idade Média forma-se com o corolário do fortalecimento da atividade mercantil, com o nascimento das primeiras cidades junto ao crescimento da burguesia trouxeram mudanças no paradigma do conhecimento, a penetração do capitalismo e dos interesses políticos e econômicos da burguesia se alastraram na Europa, não de modo uniforme mas teve movimentações territoriais específicas, aumentando o acervo dos estudos sobre a superfície da Terra e tal período chama-se Renascença.
    O Renascimento, tendo como características a retomada dos estudiosos clássicos gregos, como Platão e Aristóteles – dois filósofos de grande oposição entre suas ideias e métodos. Mas o principal papel do renascimento é o rompimento de um modelo feudal, com ampla força política e moral institucionalizada pela Igreja Católica para o modelo capitalista. Tal fenômeno deu-se a partir das aglomerações urbanas em volta dos feudos, chamando-se de burgos, gerando a burguesia, que posteriormente, com o acumulo do capital ganha espaço e influência política a seus interesses.
    Há de se comentar que com a consolidação precoce dos Estados-Nações, como a Inglaterra, Portugal, Espanha, deram início aos estudos cartográficos para a navegação, tendo a particularidade de explorações continentais. Mas os dois mais influentes nascem na aristocracia prussiana (futura Alemanha), Alexander Von Humboldt e Karl Hitter. A penetração do capitalismo fora tardia na Prússia, e que ainda sobrou restolhos do feudalismo e a formação da burguesia não trouxe um caráter de união nacional (assim como a França), vale ressaltar que a entrada do capitalismo foi intensa na questão agrária, mas sua forma ainda se manteve, entretanto, o conteúdo perdurou. Isto é, o poder se concentrava nos grandes proprietários de terras.
    Moraes (2007) salienta que a questão do espaço na Alemanha foi essencial para a construção de um estudo mais aprofundado sobre a geografia em relação ao contexto do início século XIX e com isso diz:
A falta da constituição de um Estado nacional, a extrema diversidade entre os vários membros da Confederação, a ausência de relações duráveis entre eles, a inexistência de um ponto de convergência das relações econômicas – todos estes aspectos conferem à discussão geográfica uma relevância especial, para as classes dominantes da Alemanha, no início do século XIX. Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã de então. É, sem dúvida, deles que se alimentará a sistematização geográfica. Do mesmo modo como a Sociologia aparece na França, onde a questão central era a organização social (um país em que a luta de classes atingia um radicalismo único), a Geografia surge na Alemanha onde a questão do espaço era a primordial (2007, Pg. 61)
    O naturalista Humboldt, trouxera pela primeira vez a discussão da forma na geografia dentre as suas expedições ao mundo, buscando um caráter mais cientificista, tramando com método empírico dedutivo. Humboldt foi influenciado por grandes filósofos entre eles está Imannuel Kant, Schelling e Goeth. Com seu leque de conhecimento trouxe o conceito de paisagem a partir de tais teórico e da observação. A paisagem deveria ser contemplada pelo pesquisador de forma estética e a partir da observação sistemática e do raciocínio lógico levaria até a explanação. O naturalista entendia a geografia como a síntese de todas as outras ciências da Terra.
    Para concluir, vale a pena lembrar a influência do também naturalista (e da alta aristocracia) Karl Ritter, pois trouxera a carga filosófica e histórica para a geografia. O teórico dizia que o estudo geográfico tem o dever de encontrar uma área dotada de uma individualidade, ou seja, buscar a individualidade dos lugares tendo o homem como elemento principal. Por fim, tais curiosos pertenciam a aristocracia de suas épocas, tendo o privilégio de serem pesquisadores.

Referências


ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes. 2007

CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito & VIADANA, Adler Guilherme. Fundamentos históricos da geografia: contribuições do pensamento filosófico na Grécia antiga, p. 11-34. In: GODOY, P.R.T. (org.). História do pensamento geográfico e epistemologia em Geografia [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

MORAES, A.C.R. Geografia: Pequena história crítica. São Paulo: Annalumbe. 2007.

BAUAB, F. P. Idade Média e conhecimento geográfico. Revista Faz Ciência, Londrina v.9, n.9, jan. /jul., 2007, p. 149-166.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Semana da Pessoa Geógrafa

É com muita satisfação que nós do PET Geografia anunciamos a Semana da Pessoa Geógrafa, com o intuito de comemorar o dia da Pessoa Geógrafa (29/05). As atividades serão todas online, realizadas no Instagram do PET Geo durante toda a semana (de 25 à 29 de maio) e também contará com uma live em nosso canal do Youtube.
Para homenagear os profissionais, estudantes e amantes da nossa linda Geografia, estamos contando com a ajuda de vocês, geógrafxs, para o preenchimento de um formulário com um pouco da sua experiência com a ciência geográfica.


Para fechar a Semana da Pessoa Geógrafa, no dia 29/05 às 15:00hrs (horário de Brasília) acontecerá uma live com o Professor Dr. Osvaldo Girão, do Departamento de Geografia da UFPE, em nosso canal do Youtube. O tema da live será: "Perspectivas Atuais e Futuras da Pessoa Geógrafa para a Geografia".


No contexto atual de pandemia do Sars-Cov-2 é de suma importância discutirmos nossas estratégias e nossas perspectivas como geógrafxs. Contamos com sua presença, apoio e participação!
Se liga aí no nosso cronograma para essa semana especial!


Assista ao vídeo inaugural da #SPG2020



Como não perder nada?
1º Fica em casa e se cuida!
2º Se liga no nosso Insta.
3º Preenche o formulário.
4º Se inscreve no nosso canal do Youtube.