terça-feira, 26 de maio de 2020

Parte II - Diálogos e Conexões: Breve Ensaio Sobre o Desenvolvimento da Ciência Geográfica

2. A Sistematização de Uma Ciência em Meio a Guerra


    Para que haja o entendimento da produção de Friederich Ratzel, se faz importante a percepção de seu contexto histórico, científico, cultural e suas interligações. Vale a pena salientar que a Alemanha no século XIX não era ainda a Alemanha pois não havia se constituído o Estado Nacional. Por assim dizer, a Prússia – futura Alemanha- continuava com a aglutinação de feudos, isto é, a Prússia vivia uma descentralização de poder. De um modo geral, os proprietários das terras eram quem mais possuía poder e passaram do autoconsumo, da subsistência a produção ao mercado, mas sem desestruturar o modo de relação servil, típico do feudalismo.
    A origem da Geografia se dará na Alemanha, tanto pelo motivo das fragmentações do modo capitalista, mas também com o expansionismo napoleônico. Napoleão, com o bloqueio continental, fez com que a Alemanha se industrializasse e também fez com que seu mercado interno ascendesse. Isso levou a um ideal de unidade, mas não a unificação. Este acontecimento levou a Confederação Germânica, de um modo geral, havia uma disputa entre a Áustria e a Prússia para a tomada de poder, o que levou a guerra entres as duas. Prússia sai como vitoriosa e aplica seu modelo de organização espacial política, econômica e, principalmente, militar (MORAES, 2007).
A unificação tardia da Alemanha, que não impediu um relativo desenvolvimento interno, deixou-a de fora da partilha dos territórios coloniais. Isto alimentava um expansionismo latente, que aumentaria com o próprio desenvolvimento interno. Daí o agressivo projeto imperial, o propósito constante de anexar novos territórios. E, por esta razão, mais uma vez, o estímulo para pensar o espaço, logo, para fazer Geografia.
    Pode-se dizer que Friedrich Ratzel e seu estudo geográfico deram forças ao expansionismo Prussiano, isto é, o autor era engajado em seu contexto político. A obra nasce na justificativa ao imperialismo Alemão. O desenvolvimento industrial/capitalista tardio deixou a Alemanha sem a partilha de territórios coloniais. Porém, este rápido crescimento levou a uma fervorosa expansão.
    Ratzel traz um fortalecimento para a política imperialista da Alemanha ao trazer o objeto de estudo da geografia, sendo está, o estudo da influência da natureza sobre os seres humanos, tanto na fisiologia quanto no psicológico do ser humano. Ratzel vai dizer que a natureza determina a riqueza, o desenvolvimento das sociedades com os meios que tal sociedade obtém. Ratzel ainda traz a naturalização do expansionismo de uma sociedade bem desenvolvida, pois o progresso exige maior uso dos recursos naturais e isso exige uma ampliação do território. Para enaltecer a ação alemã, o teórico traz o conceito de Espaço Vital, que representa o equilíbrio de uma dada sociedade e aos seus recursos disponíveis, portanto, dando a competência de ampliar-se a partir da necessidade de outros territórios para. E a imagem do Estado é essencial, pois é a partir dele que há imperialismo.

Referências


MORAES, A.C.R. Geografia: Pequena história crítica. São Paulo: Annalumbe. 2007.