quinta-feira, 28 de maio de 2020

Parte IV - Diálogos e Conexões: Breve Ensaio Sobre o Desenvolvimento da Ciência Geográfica

4. Entre os Modelos e a Explicação: A Nova Geografia e a Geografia Crítica


    O que antecede a Nova Geografia é a Geografia Pragmática norte-americana e para entendermos o surgimento da primeira é preciso discorrer sobre a segunda. Portanto, a Geografia Pragmática teve grande influência nos Estados Unidos.
    Dois geógrafos vão influenciar a uma movimentação para uma renovação da geografia, sendo eles Alfred Hettner e Richard Hartshorne e seus nomes estão vinculados a Geografia Racionalista, a qual tenta desvincular o empirismo no método de pesquisa, mas não necessariamente houve algum rompimento com a Geografia Tradicional. A Geografia Racionalista, mais tarde há de se chamar Pragmática.
    Alfred Hettner, foi um geógrafo alemão que tentou romper o pensamento determinista e possibilista, porém foi renegado em sua época. Hettner dizia que a geografia deveria estudar as diferenciações das áreas, ou seja, analisar os elementos e suas inter-relações da superfície da terra.
    Hartshorne vai se embasar em Hettner, levando e melhorando o estudo geográfico no EUA, a geografia estuda as inter-relações de fenômenos heterogêneos. Porém, o rizoma epistemológico da geografia expandira, pois Hartshorne cria a Geografia Nomotética, sendo esta a, grosso modo, a generalização das áreas e criou também a Geografia Idiográfica, esta sendo o estudo singular, do particular, que levaria a um estudo mais especifico e detalhado. Todavia, Hartshorne não se preocupou em dar o objeto de estudo da geografia, sendo este para ele um “ponto de vista”.
    Após 1970, a geografia de fato rompe com a Geografia Tradicional, porém entra em crise, pois os modelos de produções capitalistas mudaram, haviam grandes monopólios, o capitalismo estava mais complexo, a urbanização se expande de maneira irrefreável, o modelo agrário adquiriu a industrialização, as relações se modificaram, entre outras coisas. A geografia não estava conseguindo compreender o espaço, levando a crise de técnicas de análise. O próprio positivismo estava caindo em terra, por carregar a simplicidade em seu método. A geografia já não tinha um objeto claro e concreto para se consolidar como ciência. E mais uma vez, o rizoma epistemológico expande-se para muitas categorias, podendo dividir em duas contrastantes: a Geografia Pragmática e Geografia Crítica. Essa divisão ocorre por conta das ideologias, concepções de mundo, engajamento político e metodologias.
    A Geografia Pragmática, nome autoexplicativo, tende a um caráter prático. Levantou críticas a Geografia Tradicional, principalmente a insuficiência de análise e ao método empirista. O método pragmático está embasado na estatística e no raciocínio dedutivo, coligado ao interesse do capital (burguesia), muitas vezes correlacionando-se com o Estado capitalista.
    Dentro deste movimento houve ramificações, entre elas está a Geografia Teorético-Quantitativa, com as elaborações de “diagnósticos” a partir das expressões numéricas. Houve a Geografia Sistêmica ou Modelística, que usavam modelos de representações e explicação. E a Geografia da Percepção, de caráter behaviorista, buscava entender como os homens percebem o espaço por eles vivenciados.
    O grande problema vinculado ao pragmatismo geográfico, que vai servir de crítica com a Nova Geografia, é que eles não se preocuparam em desvincular a base social do pensamento Tradicional, favorecendo a burguesia e ao Estado burguês. A Geografia Pragmática vai se abster de assuntos sociais e políticos. Fernandes e Dutra (2019) dizem em relação a demanda de uma outra movimentação epistêmica e comentam:
No âmbito científico-paradigmático, a Geografia Crítica nasce da própria Nova Geografia, e do contexto histórico, questionando e criticando a ideologia presente para o desenvolvimento do capitalismo. Inicia-se, a partir de uma sócio-construção, um novo paradigma na geografia com abordagens baseadas na dialética, hermenêutica, fenomenologia. (2019, pg.6).
    Por fim, tem-se a Geografia Crítica, a qual levará a ruptura com o pensamento pragmático, cujo método pauta-se na interpretação materialista histórico-dialética do mundo. Tal geografia vai se diferenciar através do seu engajamento político, social e cultural, isto é, buscando um caráter analítico, o que trouxe não uma geografia, mas geo-grafias.

Referências


FERNANDES, A.M. GOMES, R. D. Os critérios de verdade na Nova Geografia: a influência do Círculo de Viena na abordagem geográfica. Anais do VII Encontro do Pensamento Geográfico. Recife-PE. 2019.


Confira o texto completo clicando aqui.