quarta-feira, 27 de maio de 2020

Parte III - Diálogos e Conexões: Breve Ensaio Sobre o Desenvolvimento da Ciência Geográfica

3. A Construção das Duas Escolas: A Recente Alemanha e a França


    A Alemanha teve seu processo de unificação de um Estado Nacional tardio em relação aos outros países da Europa, o que trouxe certas dificuldades de desenvolvimento capitalista. Entretanto, após a guerra entre a Prússia contra Áustria, com vitória da primeira. Teve-se uma implantação do molde de organização prussiana, com aspectos forte de nacionalismo/chauvinismo e uma forte e poderosa militarização.
    Ratzel, cabe destacar aqui, foi muito influenciado por duas correntes científicas, o darwinismo e o positivismo, o primeiro está vinculado a concepção de “organismos”, esses sendo a sociedade de um modo geral. O positivismo dentro da obra de Ratzel está na tentava de sistematizar a geografia, de trazer aspectos quantitativos e estatísticos para então alcançar o progresso da sociedade.
    Bem, a obra de Ratzel está totalmente interligado ao seu contexto histórico, dando aval para o imperialismo alemão. A teoria do autor era a de que o meio em qual determinada sociedade se encontrava influenciava o desenvolvimento da mesma, e que a partir do desenvolvimento haveria premência territorial de se expandir.
    Os adeptos de Ratzel, faz-se necessário dizer, generalizaram e simplificaram sua teoria. Criando a escola determinista ou, até mesmo o “determinismo geográfico”. Tais generalizações seriam “ o homem é produto do meio” ou “ o meio define o progresso da história”.
    Entretanto, houve oposição a esse tipo de pensamento, nascendo na França. E aqui cabe explanar, brevemente, o contexto histórico e geográfico. A França passou por uma revolução burguesa com influência Iluminista, instituindo uma tradição liberal e cientificista. A ciência teve papel importante, pois foi colocada afastada do discurso ideológico burguês com um ar de “neutralidade”, porém, esta trouxe autoritárias ordens. 
    No final do século XIX, a Prússia (futura Alemanha) e a França tentavam a disputa da hegemonia da Europa, o que travou em um combate em 1870. O que levou a derrota da França e a perda de Alsácia e Lorena, territórios de grandes reservas de carvão, os quais eram utilizados para a industrialização francesa, agora em pertencimento a Prússia.
    Após a derrocada francesa, houve a formação da Terceira República francesa. O procedente foi a colocação da geografia em todas as escolas de ensino básico, foram criadas também as cátedras e institutos de geografia. Mostra-se o interesse a geografia dentro do contexto da guerra. E é nesse emaranhado que surge a oposição a ideia de Ratzel, com propostas de Paul Vidal de La Blache.
    La Blache trouxe três críticas ao determinismo de Ratzel. Primeiro argumentou que a ciência geográfica alemã não tinha “neutralidade”, na tentativa de deslegitimar e implantar a base liberal burguesa, isto é, deslegitimar o imperialismo alemão e sobressair o imperialismo francês de modo sutil. A segunda crítica foi a passividade que o ser humano se encontrava nas formulações ratzelianas. Com isso, Vidal contribui para a carga humana dentro da geografia. Por fim, a última crítica foi no determinismo de fato, ou melhor, descordou de que o meio é o “maior” fator para determinar o caminho da história.
    A partir dessas três críticas, La Blache criou uma perspectiva opositora à alemã. O objeto de estudo seria a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Dando maior ênfase ao homem, ou seja, o homem é ativo e passivo sobre o meio. A natureza possibilita o desenvolvimento humano, daí vem a ideia de possibilismo. Mas vale a ressalva de que o possibilismo de Vidal era um mito da ciência asséptica, que a ciência possui neutralidade e este posicionamento de “despolitização” da ciência deu abertura para o imperialismo francês.
    Idealizado por Paul Vidal de La Blanche, o Possibilismo é a escola geográfica da França. O surgimento desse pensamento tem início na época em que estava havendo durante o confronto Franco-Prussiano, pois a França viu a necessidade de conhecer o território.
     Diferente do Determinismo (até mesmo contra), o Possibilismo tem uma visão de que o homem pode modificar a natureza a seu favor, não ficar refém dela, apenas intervir e adequa-lá a suas necessidades e assim adaptaria-se a esse meio modificado. Os intelectuais Possibilistas tiram a responsabilidade da natureza pela pobreza de uma população ou pelo seu retardamento, pois se acreditam que o homem pode modificar ele pode sair dessa situação de “desfavorecimento” natural.